quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Alguns jogos realizados por pessoas com PC

Boccia
Um jogo de "atirar bola ao ar"
História do Boccia

Os primeiros sinais de existência deste jogo remontam a alguns séculos antes de Cristo, a um túmulo de um jovem faraó egípcio onde foram descobertas 2 bolas de pedra um pouco maiores que as bolas de ténis, próximas de uma bola mais pequena que deveria ser usada como bola alvo.
A este primeiro testamento histórico juntar-se-á mais tarde o contributo dos gregos e dos romanos ao jogarem este jogo, agora com bolas em pele. O Boccia chegou mesmo a fazer parte dos jogos olímpicos dos gregos, como forma de divertimento, identificando-se como um jogo de "atirar bola ao ar".
Há também dados da introdução do jogo na costa florentina no séc. XVI pela aristocracia italiana mas tudo aponta no sentido de terem sido os romanos que trouxeram o jogo do sul de França na qual ainda hoje se pratica a conhecida petanca.
Assim durante séculos as pessoas juntaram-se nas ruas, nos parques, jardins para jogar Boccia sobre vários nomes: bochs, boulle, petanca, bowling e outros.
O Boccia enquanto modalidade para os sujeitos com Paralisia Cerebral teve a sua implantação e desenvolvimento nos últimos 20 anos assumindo o papel de grande interesse para a reabilitação do deficiente a nível recreativo e competitivo.
Na verdade o jogo tem sofrido um desenvolvimento fantástico, a nível técnico e táctico, com número crescente dos participantes, número e diversidade de competições, e material utilizado.

O Boccia foi introduzido em Portugal em 1983 aquando da realização do 1º curso de Desporto para Deficientes com Paralisia Cerebral. No ano seguinte integrou o calendário competitivo do Campeonato Nacional para a paralisia Cerebral como modalidade de demonstração.

A partir desta altura houve diversas com o objectivo de sensibilizar e divulgar o jogo pelo país, tais como a sua introdução nas aulas de Educação Física, acampamentos, jogos experimentais e provas de âmbito local e regional.
Em 1988 foi reconhecido como modalidade Paralímpica. Hoje em dia, em Portugal, o Boccia é uma das modalidades com maior número de praticantes no que diz respeito à população com Paralisia Cerebral tendo vindo a aumentar um pouco por todo o mundo.
Actualmente realiza-se a nível nacional, o Campeonato Nacional por zonas, a Fase Final e o Campeonato de Portugal. A nível internacional temos os Campeonatos da Europa e do Mundo , a Taça do Mundo e os Jogos Paralímpicos.


Classificação

O Boccia como modalidade desportiva destina-se a indivíduos portadores de deficiência motora grave (P.C. ou outra) correspondente a grandes incapacitados divididos nas seguintes classes :
  • BC1 – São tetraplégicos com pouca amplitude de movimento funcional e pouca força funcional em todas as extremidades e tronco. Dependem de um acompanhante para ajustar ou estabilizar a cadeira ou para lhe dar a bola.
  • BC2 – São tetraplégicos com pouca força funcional em todas as extremidades e tronco, mas com capacidade para propulsionar a cadeira de rodas.
  • BC3 – São indivíduos com muitas dificuldades na preensão da bola e sem força funcional para fazer um lançamento para dentro de campo. Utilizam calhas para fazer o lançamento. Nesta classe estão incluídas outro tipo de deficiências com as mesmas características funcionais.
  • BC4 – Estão incluídos os indivíduos portadores de deficiência motora com limite funcional superior idêntico à BC2.
O Jogo

O objectivo do jogo é a marcação do maior número de pontos através do lançamento de séries de 6 bolas em direcção a uma bola alvo.
As bolas em número de 13 são: uma de cor branca que corresponde à bola alvo, 6 de cor azul e 6 vermelhas. As bolas são duras, mas revestidas a pele, possuindo a características de poderem ser agarradas e lançadas por pessoas com dificuldades de preensão.
O atleta pode lançar, pontapear ou usar um dispositivo auxiliar tipo goteira/calha para fazer rolar a bola.
É jogado numa superfície lisa e regular, num rectângulo de 12,5 x 6 m possuindo no topo 6 caixas de lançamento de 2,5m x 1m a partir das quais os jogadores executam os lançamentos.
O jogo inicia-se após sorteio por moeda ao ar para escolha das bolas. A primeira bola a ser jogada é a branca que será seguida de uma bola vermelha lançada pelo mesmo jogador.
O desenrolar do jogo é muito simples e assenta num principio quem está a perder (está mais longe da branca) é que joga a seguir. Assim quem joga a bola branca (e desde que esta fique dentro da zona válida de campo) lança também a primeira bola de cor, a seguir joga o outro lado e depois joga sempre quem está a perder.


Slalom

Modalidade praticada quase desde o início do aparecimento do desporto para a paralisia cerebral há mais de 10 anos que não é praticada com regularidade. Neste momento, graças às alterações introduzidas e ao empenho da federação espanhola estamos em fase de relançamento da modalidade.
O slalom é uma corrida de obstáculos em cadeira de rodas, tipo gincana, combinada por três percursos distintos.
Este desporto encarrega-se de "criar" problemas de forma artificial, voltas, mudanças de direcção, rampas, etc., que exigem ao praticante rapidez, coordenação, força e técnica para o fazer no menor tempo possível e cometendo o menor número de erros, havendo penalizações de 3 segundos (pisar riscos e toques nos pinos) e 5 segundos (derrubes dos pinos) e desqualificações por erros nos percursos.
Pode ser disputado individualmente ou colectivamente em equipas de 4 elementos (estafetas).
Em termos competitivos, é praticado apenas por atletas com paralisia cerebral e utilizadores de cadeiras de rodas manuais ou eléctricas. Estão divididos em 5 classes desportivas consoante a funcionalidade motora:
  • D1: Atletas com afectação severa. Incapazes de mover funcionalmente uma cadeira de rodas manual. Dependentes de uma cadeira de rodas eléctrica. (CP1)
  • D2: Afectação de severa a moderada. Pobre força funcional em todas as extremidades e tronco, mas capazes de movimentar a cadeira de rodas com os braços. (CP2U)
  • D3: Afectação de severa a moderada. Pobre força funcional em todas as extremidades e tronco, mas capazes de movimentar a cadeira de rodas com as pernas. (CP2L)
  • D4: Quadriplégia moderada ou hemiplégia severa. Bom controlo de tronco ao empurrar a cadeira, limitado por vezes pelo tonús extensor (CP3)
  • D5: Boa força funcional com limitação mínima ou problemas de controlo que se observam nas extremidades superiores e tronco (CP4).


Novo Formato da Competição
  • Competição Individual
    O slalom individual é composto por três provas combinadas:
    • Percurso fixa cronometrado com 8 obstáculos (4 quadrados, 1 oito, 1 rampa com 90º, 1 circulo, 1 porta de inversão), partida e chegada.
    • Corrida simultânea em paralela (um contra um) / prova por eliminatórias com 4 obstáculos (1 rampa, 1 oito, 1 porta de inversão, 1 quadrado), partida e chegada.
    • Percurso variável cronometrado com 8 obstáculos (os mesmos do percurso fixo, mas com uma ordem diferenciada).
    A classificação final combinada é dada por um somatório de pontos obtidos através da classificação das três provas.
  • Competição Extra Individual
    • Vencedor absoluto/Campeão dos Campeões, corrida simultânea em paralelo/prova por eliminatórias realizadas pelos vencedores de cada divisão e género.
      É utilizado um tipo de ponderação/sistema de handicaps, entre as classes e sexos diferentes, de forma a poderem competir todos contra todos, isto é, as classes funcionalmente superiores partem alguns segundos depois de ser dada a partida, segundo tabela pré-estabelecida.
  • Competição colectiva
    Colectivamente em equipas de quatro elementos, formadas livremente quer por divisão e/ ou género, realizam corrida simultânea em paralelo, em forma de estafeta (4x4) / prova de eliminatórias por equipas.
    É utilizado um tipo de ponderação / sistema de handicaps, segundo tabela pré-estabelecida, semelhante á da competição extra individual. Após o somatório dos handicaps individuais dos quatro elementos de cada equipa é feita a diferença dos totais entre elas, determinando qual a equipa mais funcional e quantos segundos partira depois.
    Cada elemento de cada equipa só pode partir após o seu colega anterior cortar a meta.
Com a prática de Slalom pretende-se, além de manter, conservar e desenvolver o potencial físico dos atletas, melhorar a autonomia e a funcionalidade da pessoa com paralisia cerebral no dia a dia; fomentando o uso das capacidades máximas da cadeira de rodas.

Em definitivo a prática desportiva, neste caso do Slalom, é uma opção de desenvolvimento físico e pessoal a partir do divertimento, do risco e do desafio que a actividade proporciona.


Zarabatana  


     A zarabatana é uma prática inspirada dos índios da Amazónia que pode ser proposta às crianças e adolescentes, incluindo também para aqueles que apresentam um quadro clinico motor grave (Paralisia Cerebral, tetraplégicos).
     Pequena e muito fácil de utilização, a zarabatana é apenas um tubo sendo considerada como um instrumento terapêutico extraordinário, podendo-se prescindir da utilização das mãos para conseguir expulsar setas em forma de agulhas e acertar num alvo colocado numa parede. A particularidade da sua concepção faz com que ela seja um dos materiais mais adaptados à tomada de consciência do sopro e aos progressos respiratórios. É um instrumento que serve também para terapia psicomotora, sendo ao mesmo tempo um óptimo meio lúdico para aprender a soprar, coordenar os movimentos, e aumentar os tempos de concentração. Esta actividade terapêutica tem como vantagem não necessitar de material muito elaborado nem de um espaço particular, sendo acessível à maior parte das instituições. A actividade exige um enquadramento seguro para ser praticada e os resultados são geralmente muito rápidos.
     É de realçar que os exercícios de sopro são diferentes e adaptados a cada criança. O acto de soprar serve igualmente para alterar as posturas "viciadas" através das sensações e da memória cinestésicas. A memória cinestésica elabora-se graças as referências visuo-espacias reforçado por uma correcção da postura. A expulsão espontânea, é sem dúvida um ponto forte, para continuar a experiência sem fracasso, ao prazer de soprar.
Em pé, sentado ou deitado
A zarabatana pode apresentar um interesse terapêutico, podendo ser praticada pela grande maioria das pessoas, tomando em conta:
  • O modo de evolução motora: podemos soprar na zarabatana em diversas posições: em pé, sentado numa cadeira, ou mesmo na sua própria cadeira manual ou eléctrica.
  • O grau de incapacidade motora, sabendo que um jovem com paralisia cerebral pode ser tão capaz como uma pessoa válida.

     A exigência requerida pode efectivamente ser o sopro. Mesmo para crianças com Paralisia Cerebral, com défices associados, ao conseguir um mínimo de sopro, esta actividade torna-se muito interessante. Até porque neste caso, os objectivos são diferentes podendo rapidamente progredir para uma fase seguinte.
     Existem vários comprimentos de zarabatana, sendo a mais usual no nosso grupo a de 63cm e 96cm. A zarabatana de maior comprimento facilita a pontaria mas em contrapartida requer mais energia para expulsar as setas. No entanto, a zarabatana mais pequena, facilita a expulsão através de um pequeno sopro mesmo que implique menos capacidade respiratória.
     O atirador deve coordenar a posição correcta da boca no bucal da zarabatana e efectuar um sopro espontâneo e rápido, sem que haja fuga de ar, tornando-se difícil mas não impossível para jovens com movimentos involuntários. Para este efeito, criou-se um suporte estável em forma de "H" ou em forma de tripé, constituindo apoios essenciais que permitam minimizar os movimentos motores involuntários, contribuindo também para elaboração de referências corporais. Tomando consciência que os resultados são muito rápidos, a zarabatana torna-se uma actividade desejada por todos.
Numa primeira fase é necessário um mínimo de sopro para poder praticar, definindo objectivos adaptados a cada um.
Quando soprar é brincar

     Na zarabatana a concentração é uma competência absolutamente primordial. Ela pode ser trabalhada e potencializada, precisamente num quadro de segurança, de confiança, de prazer, e de auto-controlo. Por vezes, adoptamos posições estratégicas na posição das crianças no espaço da sala para que estas não venham a ser distraídas, afastando-as de elementos perturbadores como estar perto das janelas, de um colega falador,etc.
     A concentração deve imperativamente estar presente em toda a sessão. A concentração promove-se desde o princípio, colocando o material à disposição (zarabatana, suporte, setas,...), e repetindo um certo ritual para a colocação da seta, o posicionamento do corpo, a inspiração até a constituição do próprio sopro e a memorização de um ponto no espaço.
     Interessante realçar que a actividade tem uma duração aproximada de 30 a 40 minutos, durante a qual efectuam 10 lançamentos de 6 setas. A permanência da postura, da coordenação, da visão e do sopro, permite trabalhar de uma forma consistente e activa a memorização e a concentração.
     Os resultados são por vezes subjectivos quando por exemplo consegui-se alcançar uma boa pontuação com setas espetadas e espelhadas em volta do ponto mais alto. Efectivamente, uma boa pontuação não é sempre sinónimo de êxito, da mesma maneira que, em sentido mais clínico, as dificuldades em manter uma concentração permanente resulta de um conjunto de variáveis que traduzem uma certa instabilidade psicomotora. O projecto de concretizar uma boa performance parte sempre em conseguir referências espaciais estáveis, traduzidas por uma conjugação de setas num espaço geográfico muito próximo. Neste sentido, a pontuação pode revelar-se baixa mas os objectivos foram alcançados. As exigências de um bom empenho encontra-se na regularidade e optimização dos lançamentos que nos informa entre outros sobre o estado da pessoa.
     Nesta actividade não há riscos, se tomar-mos em conta algumas precauções, como em todos os desportos de tiro e/ou lançamentos. Como tal, é fundamental criar uma zona de sopro na qual estão sentadas as crianças, e uma zona entre as zarabatanas e o painel de tiro sendo um espaço exclusivo para o psicomotricista que enquadra a actividade. O levantamento das setas, as indicações e a contagem dos pontos é apenas efectuada pelo adulto quando todos acabam de soprar as suas setas.
     Os mais independentes, podem colocar autonomamente as suas setas no bucal da zarabatana, sabendo que as zarabatanas contêm um sistema de anti-retorno das setas evitando o perigo de ingestão, e protegendo consequentemente aqueles que apresentam perturbações da coordenação como no caso de crianças com Paralisia Cerebral.
     A zarabatana proporciona resultados imediatos do sopro, e permite um trabalho de concentração interessante para o dominar. Sem perder o espírito lúdico desta actividade, ela serve de instrumento terapêutico em sessão programada semanalmente. Poder largar projécteis com maior precisão e maior regularidade para a realização de uma melhor performance pessoal constitui um desafio. Trata-se de preservar a sua integridade física e gerir melhor os recursos em função da deficiência, porque o prazer e o desejo de soprar faz progredir.

1 comentário:

  1. Para que haja Sucesso Escolar/Educativo o aluno com Sequelas de Paralisia Cerebral (PC) precisa de ter alguma auto-estima e auto-imagem que, se poderá alcançar,mediante a frequência de actividades lúdicas e desportivas, de modo a haver Inclusão plena.
    Estes desportos que referiram são um exemplo do trabalho que deve ser feito com estas crianças, jovens e adultos. Obrigada pela partilha da informação, pois estava com alguma dificuldade em encontrar informações sobre o tema em epígrafe.

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